A eliminação da Seleção Brasileira da Copa do Mundo vai colocar o Brasil de volta à realidade. Partidos políticos vão intensificar o processo de definição de coligações e escolhas de candidatos a vice-presidente nas eleições de outubro. É questão de tempo os eleitores se recuperarem da ressaca após a eliminação do torneio e voltarem as atenções à corrida eleitoral. Não por simpatia ou reconhecimento de uma proposta ou outra dos pré-candidatos, mas, sobretudo, porque o fim da ilusão do hexacampeonato escancara os problemas de uma economia que não decola, de um mercado de trabalho desaquecido, e do preço elevado de produtos como a gasolina. Com os problemas batendo à porta, os brasileiros começarão a analisar melhor o cenário político.

Os partidos estão atentos a esse processo. Caso o Brasil chegasse à final da Copa, que será disputada em 15 de julho, as legendas teriam mais uma semana para dialogar sem a pressão de um cenário em que os brasileiros começam a despertar para os problemas que os cercam. Agora, a realidade exige a intensificação dos diálogos para encaminhar as coligações e convencer eleitores, hoje desinteressados da situação política e econômica, a escolher o candidato a governar o Brasil nos próximos quatro anos.
 
Não será uma tarefa fácil para os partidos convencer o eleitorado. Os votos brancos, nulos e abstenções somaram 43,54% dos votos no primeiro turno da eleição suplementar para governador do Tocantins. A situação no estado já havia ligado o sinal de alerta para os políticos, e só reforça a importância de montar coligações robustas para apresentar ao eleitor um nome forte capaz de reestruturar o país e fazer a economia deslanchar, diz o deputado federal José Rocha (PR-BA), líder do partido na Câmara.

A mudança de cenário não significa que as coligações começarão a ser fechadas já nesta semana. Rocha nega que o PR confirmará o embarque em alguma candidatura antes do fim do torneio esportivo, mas admite que a eliminação do Brasil apressará o processo de definição de alianças. “Estamos antecipando nove dias. Isso só ia acontecer depois do fim da Copa. Agora, se apressa o processo de definição das candidaturas não só de governador, mas, sobretudo, da presidencial”, analisa.

Sob a ótica eleitoral, o quadro é ainda mais delicado do que quando o Brasil foi goleado pela Alemanha por 7 a 1 na Copa do Mundo de 2014. Naquela época, a então presidente Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e Marina Silva lideravam as intenções de voto em uma situação menos incerta do que a atual. Por esse motivo, os partidos vão se apressar para fechar alianças, sobretudo os do centro, que ainda procuram uma definição, avalia Rocha.

Musculatura

“A direita está representada com Bolsonaro, e a esquerda, com Lula. Mas não surgiu ainda um contraponto de centro para poder disputar com uma dessas duas posições. Toda essa indefinição gera um caso inédito. Em 40 anos de mandato, nunca vivi uma situação como a de agora. Eu, hoje, não sei em quem votar. Imagina o povo”, pondera o líder do PR.

A proximidade do recesso parlamentar, que se inicia em 17 de julho, dois dias após o fim da Copa, é outro fator que levará as legendas a se mobilizarem, pondera o ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Marun. “A próxima semana terá uma importância muito grande. Mesmo que as coisas não se decidam, esse é, talvez, um dos últimos períodos em que as forças políticas estarão concentradas em Brasília antes das convenções. A partir da semana seguinte, entraremos em recesso, e vai haver dispersão”, analisa.

Dificilmente a semana reservará desfechos eleitorais. Ainda assim, Marun avalia que ela será importante para o avanço das conversações. Nesse processo, as discussões em torno de um nome de centro continuarão. MDB e PSDB manterão as negociações. Mas o selamento desta união ainda está longe de acontecer. O ministro diz que a proposta dos tucanos é buscar uma adesão à candidatura de Geraldo Alckmin. Mas o momento não é disso, sustenta o emedebista.

“Nenhum dos nomes de centro tem, hoje, uma musculatura eleitoral que recomende uma adesão. Se houvesse alguém com 15%, 20% das intenções de votos, seria natural que nos uníssemos. Mas não existe. A melhor proposta seria retirar as pré-candidaturas para que pudéssemos discutir uma união do centro. Espero que tenhamos juízo suficiente para avançar neste sentido”, sustenta Marun. O ministro afirma que o presidenciável do MDB, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, é o nome ideal para unir o centro, mas diz que não quer impor o nome do emedebista como pré-condição para a formação de uma aliança.
 

Antecipação

O cenário não será diferente em relação a outras pré-candidaturas. O PDT, de Ciro Gomes, mantém conversas avançadas com o PSB e encaminha diálogos com o PP. Na próxima semana, esse processo se intensificará, admite o vice-líder da legenda na Câmara, deputado federal Ronaldo Lessa (AL). “Sem dúvida, vai antecipar um pouco. Nossa própria convenção ocorre em 20 de julho. Se o Brasil tivesse ido à final, com certeza as conversas seriam retardadas”, afirma.
 
Apesar do estágio avançado, o cenário de alianças no PDT ainda depende de mais conversas. Sobretudo, para definir o vice de Ciro. O PSB tenta emplacar o ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda, enquanto o PP sugere o nome do empresário Benjamin Steinbruch. Não faltam motivos para os pedetistas aproveitarem os próximos dias para intensificar as conversas com os aliados. O PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda tenta atrair os pessebistas. Na terça-feira, os presidentes de ambos os partidos se encontrarão para procurar uma sintonia. Os petistas oferecerão a retirada da candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco em apoio à reeleição do governador Paulo Câmara.

As definições de alianças não serão rápidas. Os partidos não planejam dar o braço a torcer e tentarão até 5 de agosto, último dia das convenções partidárias, convencer aliados de que têm o melhor pré-candidato. A diferença, agora, será o tom estratégico adotado nos diálogos entre as legendas, avalia o analista político Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB). “Vão ter que sair em campo um pouco mais cedo e terão que acelerar as conversas gradativamente”, pondera.

Na direita, o ambiente também é de articulações. O PSL, de Jair Bolsonaro, deseja firmar união com o PR e planeja estreitar os diálogos nesta semana. Mas a legenda também negocia com outros partidos, como o Podemos, de Álvaro Dias, o MDB, de Meirelles, e o PSDB, de Alckmin. “Tudo ainda está em aberto e não temos uma opção hoje. O cenário ideal para nós seria obter apoio para a candidatura de Josué Alencar, mas, não sendo possível, vamos procurar alguém que consiga ter a simpatia do eleitorado. Ainda temos até o fim do mês para tomar uma decisão”, ressalta o deputado José Rocha.
 
Fonte: Correio Braziliense

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