Por Artur Bueno Júnior / Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Limeira/SP, da U.S.T.L (União Sindical dos Trabalhadores de Limeira) e Vice-Presidente da CNTA (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Alimentação)
O governo recuou, diante da insatisfação popular e seus reflexos nos parlamentares. A Reforma Previdenciária só será votada em fevereiro, um prazo que precisa servir para a sociedade acordar, diante da injustiça. Acordar diante de uma reforma que usa a mentira para construir um déficit, e abusa da covardia para manter privilégios.
Parece piada, mas na última versão da reforma, as grandes aposentadorias do Judiciário, dos políticos e dos militares permanecerão intocadas. Por outro lado, o resto do país terá limite máximo de R$ 5.531 para a aposentadoria, com idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres. Para ter direito ao provento integral, pobres mortais deverão estar na ativa por 40 anos, uma forma ainda mais cruel do fator previdenciário.
A nova estratégia de Temer é satanizar o funcionalismo, acusando os servidores de ganharem muito. Fica implícita a acusação de que “trabalham pouco”, um discurso disseminado em todas as mídias, alimentadas pelo dinheiro da propaganda governamental. Entidades representativas da classe são desprezadas, e a inversão de valores se dá quando da comparação com os raquíticos salários da iniciativa privada. Eles, os pobres servidores, são os culpados de tudo?
O pano de fundo para a reforma, catastrófico, é o tal déficit insanável. A tese foi destruída pela CPI da Previdência, capitaneada pelo valente senador Paulo Paim, mas o governo se finge de surdo. Prefere ignorar que grandes empresas devem R$ 426 bilhões para a Previdência, incluindo gigantes como o Bradesco, o Itau, a Marfrig e a JBS (responsável por R$ 1,8 bilhão). Prefere negar que as isenções aos grandes grupos econômicos acumulam R$ 57,7 milhões ao ano, o que representa 40% do déficit do INSS.
Tem mais. A DRU (Desvinculação de Receitas da União) é um mecanismo criado para retirar dinheiro da Previdência, e investir em outras áreas. Ora, diante disto, é possível acreditar em qualquer número do governo acerca de déficit? É possível acreditar na seriedade de um grupo político que foge da discussão e repete mantras mentirosos, apressando a tramitação da reforma o máximo que pode? Ficaremos passivos, diante desta situação?
Os dados mostram que a Previdência Social precisa sim, de uma reforma. Mas uma reforma decente e honesta, que acabe com as regalias, e a cultura de sonegação das empresas. Não a que está aí, cheia de falhas, mentiras e injustiças.
Está na hora de mobilizarmos nossas bases, e exigirmos a manutenção dos nossos direitos. Sem argumentos convincentes, não podemos comprometer o futuro de nossos filhos e netos. E isto precisa ocorrer de forma clara, rápida e pública. Do outro lado, até fevereiro, corre a passos largos a sequência de reuniões em escuros gabinetes, e o passeio de pesadas malas de dinheiro ou cargos.