O medo de perder o emprego volta a assolar o brasileiro. Em 22 anos, essa é uma das poucas vezes em que o cidadão se mostra altamente preocupado com a situação do trabalho no país. O índice do Medo do Desemprego, divulgado, no domingo (8/7), pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), subiu para 67,9 pontos em junho, numa escala de 0 a 100. O valor é 4,2 pontos acima do que foi registrado em março, e o índice se encontra 18,3 pontos acima da média histórica de 49,6.
O índice apontado na pesquisa é um dos maiores dentro de uma série histórica com início em 1996. Apenas em maio de 1999 e em junho de 2016, o indicador alcançou pontuação semelhante a atual. Além disso, o medo do desemprego cresceu mais para homens e para pessoas com menor grau de instrução. Entre março e junho, o indicador subiu 5,6 pontos, contra 2,8 para as mulheres.
Para os brasileiros que têm até a quarta série do ensino fundamental, o índice subiu para 10,4 pontos entre março e junho e alcançou 72,4 pontos. Até para os brasileiros com ensino superior completo, o índice registrou alta, apesar de menor. O valor passou de 59,9 para 60,5 pontos percentuais.
Professor do departamento de economia da Universidade de Brasília (UnB), Newton Marques explica que o resultado da pesquisa é péssimo e que ele reflete uma expectativa negativa em torno da economia. “Há um ambiente pessimista. O investidor não quer mais investir e não vai contratar mais mão de obra”, sinalizou. Ele também afirmou que a perspectiva de reativação da atividade econômica também é baixa, por parte dos agentes econômicos.
Newton também critica a gestão do país, tanto pelo governo federal como por parte do Congresso Nacional. “O Congresso e o governo estão fracos. Qualquer tentativa de reativação da economia tem esbarrado em um governo fraco e em um Congresso que não consegue aprovar nenhuma medida que possa atingir o objetivo da recuperação”, lamentou. Ele acrescenta que os congressistas, principalmente em épocas de eleição, evitam tratar de assuntos impopulares, como reajuste fiscal e reforma da previdenciária.
O porteiro Roberto Sousa Lima, de 25 anos, está na busca de uma nova oportunidade no mercado de trabalho. Ele contou que havia acabado de participar de uma entrevista de emprego que continha seis vagas para 100 pretendentes. Para ele, a situação não é boa. “Eu acho que hoje está ainda pior do que antes. Nunca vi um ano tão ruim para se achar emprego”, reclamou. Para se sustentar, Roberto faz ‘bicos’ de segurança. Ele reclama que a grande dificuldade é conseguir um emprego com carteira assinada.
O vigilante Assis Carlos Garcia, de 43 anos, está desempregado há um mês. Ele deu entrada no seguro desemprego e espera conseguir sustento pelos próximos 6 meses. “Por enquanto, eu vou esperar um pouco”, comentou. Ele acredita que currículo e boas indicações garantem as propostas de emprego hoje em dia. Para se sustentar, Assis conta com uma pequena chácara onde trabalha com hortifruti, além da venda de sanduíches de uma barraca montada por sua esposa, em São Sebastião.
Fonte: Correio Braziliense