A Rel conversou com Artur Bueno de Camargo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Alimentação e Afins (CNTA), para conhecer os alcances do acordo homologado no dia 5 de fevereiro e sua análise sobre a atual conjuntura do setor frigorífico no Brasil. -Quais são os antecedentes deste recente conflito na unidade de Marfrig em Alegrete? -Há mais ou menos um ano esta planta já ameaçara fechar. Naquela ocasião, a Confederação interveio junto às autoridades municipais e conseguiu, através de prévia negociação, incluir concessões fiscais, permitindo que a empresa continuasse funcionando. O que aconteceu no corrente ano foi que a direção do frigorífico, em um ato que qualificamos como ilegal, depois do retorno dos trabalhadores de suas férias, comunicou que a fábrica fecharia, deixando na rua cerca de 600 trabalhadores. -Que medidas foram tomadas diante dessa situação? -A CNTA e o Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Alegrete começaram a se mobilizar. Fizemos a denúncia ao Ministério Público, notificamos também o Ministério do Trabalho e Emprego e articulamos ações para impedir o fechamento do frigorífico. No processo conseguimos que o Ministério Público, por meio do Tribunal Regional do Trabalho, determinasse como medida cautelar a suspensão das demissões e a reabertura dessa unidade até que a Marfrig se dispusesse a negociar com a organização sindical para buscar uma alternativa a esse fechamento. O juiz da causa determinou também que, se a empresa se negasse a voltar a operar, teria de pagar os salários dos trabalhadores, mesmo que estes permanecessem em suas casas, até que se chegasse a um acordo. -Como você avalia o momento atual? Graças à rápida intervenção sindical, pudemos nos sentar com a transnacional e chegar a um acordo no dia 5 de fevereiro. Apesar deste acordo não ser o que esperávamos, ajuda a atenuar uma situação que, em caso contrário, seria desastrosa. A Marfrig se comprometeu a manter 300 trabalhadores na fábrica de Alegrete por mais um ano e, para outros 120, ofereceu emprego nos demais frigoríficos que a empresa possui na região. A empresa também se comprometeu a apresentar um Plano de Aposentadoria Voluntária com garantias de trabalho plenas e cursos de capacitação para os que desejarem se desvincular da empresa. Aos que desejarem ser transferidos para outras unidades, a Marfrig se responsabilizará pelos custos de alojamento e de mudança, bem como pelo pagamento de um salário adicional. De qualquer forma, no transcorrer deste ano continuaremos mobilizados para buscar reverter completamente a situação e que os 600 trabalhadores possam recuperar sua fonte de trabalho. -Quais os argumentos que a transnacional apresentou para fechar a unidade de Alegrete? -Que não tem animais para abater e que, portanto, sem matéria-prima o frigorífico não pode operar. Fomos checar esta informação e descobrimos que não é que falte gado para abate no mercado, o que ocorre é que aMarfrig não quer pagar o preço pedido pelos produtores. Na verdade, estavam era exportando o gado para os outros frigoríficos da região. Até os próprios produtores se uniram à nossa luta e deixaram em evidência os falsos argumentos da transnacional..
-O fechamento de unidades, com a consequente perda de postos de trabalho, está se convertendo em uma prática bastante comum no Brasil… -Cada vez que ocorre algum tipo de fusão entre empresas, sejam elas do setor que for, nunca é em benefício dos trabalhadores. De fato, os trabalhadores são sempre os que saem perdendo, pois as plantas fecham e consequentemente há demissões em massa, como esta que aconteceu em Alegrete. Por outro lado, temos também o fato de o Brasil ter uma política de governo que visa a fortalecer estas empresas no exterior, favorecendo o monopólio de mercado. É o que acontece com a Marfrig, a JBS e a BRF e que, em determinado momento, também aconteceu com aAmbev. O Estado financia estas corporações através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e em troca recebe o custo social gerado pelas demissões em massa, sem falar do prejuízo gerado pelos monopólios para o consumidor e para o comércio em geral. Talvez para o governo alavancar estas empresas a serem competitivas no exterior, seja positivo agora, mas na verdade é uma ilusão. É pão para hoje e fome para amanhã.