Em qualquer país capitalista, é natural que os detentores do Capital defendam seus interesses econômicos. Penso, entretanto, que esta defesa precisa ter um mínimo de razoabilidade e moralidade, para ter coerência.

Os usineiros sempre foram beneficiados por políticas públicas, e pelas próprias características do mercado em que atuam. A demanda é sempre farta, e além disso há opção de priorizar a produção do açúcar ou do álcool, conforme os interesses econômicos.

Dessa maneira, os consumidores são sempre submetidos aos interesses econômicos do setor, tendo que se equilibrar nesta gangorra de preços. Especialmente do caso do álcool, há uma hora em que nem compensa abastecer com o produto, de tão alto fica estabelecido o preço.

Atualmente, o setor critica a desoneração da gasolina, e causa indignação o argumento utilizado pelos usineiros – preocupação ambiental. Eu me esforço muito para acreditar nesta versão.
Me lembro das vezes em que fui aos postos para abastecer o carro, anteriormente a maio de 2022 – quando ainda não havia subsídio da gasolina –, e o álcool não compensava, pois a diferença de preço comparado à gasolina era inferior a 70%. Questionava a razão, e a resposta era sempre a mesma: o preço do açúcar estava melhor no mercado, sendo que dessa maneira as usinas produziam mais açúcar.

Ora, antes da desoneração da gasolina não havia preocupação com o meio ambiente?

Tenho certeza de que o álcool, como combustível, contribui com a preservação do meio ambiente. Mas querer nos convencer de que o motivo do ataque ao subsídio na gasolina é o respeito ao meio ambiente, não cola!

Quando o ex-presidente Bolsonaro, que muitos apoiaram e tentaram reeleger, sancionou a lei – aprovada pelo Congresso –, isentando combustíveis de impostos federais, e obrigando estados a reduzirem o ICMS, não houve a mesma reação por parte do setor! Mesmo sabendo que foi uma decisão eleitoral para ganhar votos.

Onde está a coerência?

Artur Bueno de Camargo – Presidente da CNTA