Andre Montanher

Com o objetivo de articular informações e esforços no combate aos vazamentos de amônia nas empresas da Alimentação, a CNTA (Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação e Afins), a Contac CUT (Confederação Brasileira Democrática nas Indústrias da Alimentação) e a UITA (União Internacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação) realizaram no dia 20 de fevereiro o seminário “Vazamentos de Amônia em Frigoríficos: o que fazer?”

O evento ocorreu de forma virtual, com organização do ObAgro (Observatório de Saúde e Segurança no Agronegócio). Os debates envolveram especialistas da Fiocruz e da Fundacentro, bem como representantes do MT (Ministério do Trabalho) e MPT (Ministério Público do Trabalho). Os participantes receberam certificados.
“O Brasil registra um acidente com vazamento de amônia a cada 17 dias, um número inaceitável. Precisamos cobrar as autoridades por medidas concretas”, alertou o vice-presidente da CNTA, Artur Bueno Júnior.
A amônia é um gás tóxico, corrosivo e inflamável. A inalação pode causar queimaduras na garganta e traquéia, tosse convulsiva, dificuldades respiratórias, congestão pulmonar e morte. Explosões têm aumentado de forma exponencial no Brasil.
PALESTRAS
Leandro Carvalho, da Fiocruz, alertou que a amônia “pode provocar efeitos no organismo afetado, mesmo após dias da exposição”. Ele cobrou a manutenção preventiva dos sistemas nas empresas, e falou sobre o plano elaborado pela Fiocruz acerca do problema – uma rede de informação e comunicação inspirada no combate da SARS-COVID2.


O diretor da ObAgro Allan Campos Silva expôs um mapa elaborado pela instituição para localizar os acidentes com amônia em todo o país – e expressou preocupação com o aumento exponencial dos casos (foram 22 acidentes em 2023 contra 12 em 2022). “Aumento do ritmo de trabalho nas empresas que possuem amônia no processo, sucateamento das fábricas e a negligência estão entre as causas”, afirmou.
O engenheiro Fernando Alves Leite, do MPT, focou sua exposição na importância da segurança da casa de máquinas – com exemplos de manutenção negligente que podem resultar em problemas . “Por conta dos acidentes, na elaboração de acordos judiciais, o MPT tem preferido vetar o uso da amônia em setores da empresa com maior movimentação de pessoas. Mesmo isto não sendo proibido pela Legislação”, apontou.

O procurador (MPT) Lincoln Cordeiro ressaltou o aumento do número de mortes a cada ano, devido aos acidentes com amônia – eram 16 antes de 2020, passaram a 40 óbitos em 2021. “Os acidentes atingem os trabalhadores e a comunidade, mas o que vemos é a negligência com relação a itens básicos de prevenção. A NR-36 já tem 10 anos e deveria ser seguida por todos”, lamentou, citando norma que regulamenta o trabalho no setor frigorífico.
O auditor-fiscal do Trabalho Leandro Ramalho França Silva destacou a chamada “fadiga olfativa”, tolerância desenvolvida pelos envolvidos no processo com amônia que prejudica o alerta natural contra um vazamento. Para fazer face ao problema, ele ressaltou o investimento constante na política de prevenção, com equipamentos eficientes que substituam ou complementem a percepção humana do odor.
Ao final, o presidente da Fundacentro, Pedro Tourinho, anunciou que a instituição vai realizar um estudo técnico sobre o tema. A íntegra do seminário pode ser acessada abaixo.