Daniel Gatti ( – Site da UITA

Foto: Gerardo Iglesias | Rel UITA

Na Alemanha como em muitos outros países, leia-se Estados Unidos e Brasil, os frigoríficos são um grande foco de contágio do novo coronavírus.
O aumento no número de infectados levou o governo federal alemão a finalmente se responsabilizar pela situação dessa indústria, após dois anos de tentativas frustradas na busca de mudanças.

No final do mês, um relatório publicado pela Deutsche Welle, informou que o ministro do Trabalho Hubertus Heil já teria em mãos um projeto para a reforma do funcionamento dessa indústria. Um dos pontos cruciais do texto seria a proibição do uso de mão-de-obra terceirizada.

As empresas que fornecem trabalhadores terceirizados são constantemente acusadas de deixarem seus trabalhadores expostos a péssimas condições. A mão-de-obra em sua maioria é sazonal, vindo de países do leste europeu (Romênia, Bulgária e Polônia, principalmente).

Recebem menos que o valor do salário mínimo alemão, amontoados em pocilgas, sem proteção alguma e proibidos de se sindicalizar. Subsistem, finalmente, em condições análogas a de escravidão, tornando-se vetores de propagação da Covid-19.

SEM CONTROLE
Entrevistado pelo Deutsche Welle, o sociólogo Gerhard Bosch, da Universidade de Duisburg-Essen, disse que, se o projeto fosse aplicado, poderia gerar uma «mudança de paradigma» para a indústria. No entanto, ele alertou que, sem controle, as empresas encontrarão uma forma de driblar a normativa.

Semanas atrás, o frigorífico Tönnies, onde foi registrado um alto número de casos de coronavírus, prometeu contratar diretamente cerca de mil trabalhadores até setembro. Porém, após fazer o anúncio, encarregou a tarefa para 15 subsidiárias.

Tönnies, disse Bosch, “tentará manter a mesma organização do trabalho», com diferentes empresas na linha de produção, com a mesma repressão sindical e com a mesma prática de dividir os trabalhadores por nacionalidade. Para evitar isso, o segredo será dispor de um grande número de fiscais do Trabalho, para controlarem o funcionamento dos frigoríficos, coisa que não está acontecendo atualmente, alertou o sociólogo.

UMA “TRADIÇÃO”
Não é apenas a indústria frigorífica que, na Alemanha, recorre a empresas terceirizadas que se utilizam de mão-de-obra imigrante. Muitas outras empresas dos setores da alimentação, agricultura, construção civil, correios privados, entre outros, assim o fazem. Em 2018, o país recebeu cerca de 430 mil trabalhadores sazonais estrangeiros, a cifra mais alta da história da União Europeia.

São trabalhadores «marginalizados», que na maioria das vezes não conhecem seus direitos. Explorá-los ao máximo é muito fácil, disse Ruxandra Empen, especialista em política de mercado de trabalho da Confederação Sindical Alemã (DGB).

«Eles não se organizam sindicalmente por medo a perderem o trabalho e não denunciam a situação por medo a serem expulsos do país», e dessa forma acabam aceitando condições terríveis. Para que esses trabalhadores e trabalhadoras não sofram mais com essas condições de trabalho, será preciso haver uma vontade política real de fiscalização e de aplicação das leis, proibindo inflexivelmente o funcionamento de certos tipos de empresas, afirmou.

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