écnicos da equipe econômica já admitem que, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciar o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, o resultado será uma queda de até 0,5%. Com isso, admitem auxiliares do presidente Michel Temer, o crescimento da economia brasileira não ultrapassará 1% em 2018. A atividade foi afetada pela greve dos caminhoneiros, que abalou a confiança de empresários e consumidores. Para piorar, as incertezas eleitorais paralisaram decisões de investimento.

Sem ter clareza sobre quem comandará o país a partir de janeiro de 2019, empresários temem que a agenda de reformas necessárias para reequilibrar as contas públicas seja abandonada. Diante das perspectivas negativas, o Ministério da Fazenda revisará a estimativa de crescimento em 2018 para 1,5%, percentual próximo à mediana das expectativas de mercado. A nova projeção será apresentada no Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, que será divulgado até 27 de julho. A última previsão era de 2,5%. A redução acompanhará movimento já feito pelo Banco Central (BC), que passou a prever uma alta de 1,6% do PIB.

Ainda ontem, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou relatório em que reduz de 2,3% para 1,8% a estimativa de crescimento do Brasil neste ano. O cenário deve ficar mais claro após a divulgação dos resultados do comércio e do setor de serviços em maio. Os dados serão publicados hoje e amanhã, respectivamente, pelo IBGE. As estimativas do mercado apontam para retração de 3,2% no volume de vendas do comércio e para queda de 4% no setor de serviços.

O diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, lembrou que, apesar de a queda de 10,9% na produção industrial de maio ter sido menor que a esperada pelo mercado, os indicadores antecedentes de junho mostram que a recuperação após a paralisação está lenta, possivelmente devido à Copa do Mundo.

“Em maio, o setor mais afetado foi a produção de bens duráveis, especialmente veículos. Diante disso, projetamos retração de 0,3% do PIB no 2º trimestre. Como já temos alertado, parte das perdas desse período é irrecuperável, e o impacto sobre a confiança pode limitar a recuperação da atividade nos meses à frente”, detalhou Barbosa. Nas contas dele, a economia registrará um tímido crescimento de 1,5% em 2018. Em junho, observou, a confiança de empresários e consumidores continuou em queda, segundo diversos indicadores.

Incertezas 

A falta de clareza sobre o cenário eleitoral continuará a pressionar o nível de atividade e afetará, sobretudo, os investimentos, avaliou o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes. De acordo com ele, o PIB terá alta de 1,6% em 2018, mas o resultado pode piorar diante dos efeitos da greve dos caminhoneiros, da redução da confiança e da paralisia de empresários e investidores.

Bentes estima retração de 4% do volume de vendas do comércio em maio e resultado também negativo no setor de serviços. Segundo o economista, todo esse processo afetou o consumo das famílias, que deve crescer 2% no ano, ante previsão anterior de 2,7%. “O governo tenta alavancar o consumo com a liberação de saques do PIS e do Pasep, mas esse empurrão deve favorecer o PIB do terceiro trimestre”, detalhou.

O consumo das famílias, lembrou Bentes, continuará a favorecer o crescimento econômico, mas em menor intensidade. Mas, com a incerteza eleitoral, empresários e consumidores tendem a adiar as decisões de investimentos e de compras a longo prazo. “Não houve uma evolução de candidatos mais comprometidos com reformas. Por isso, há tanta incerteza”, disse.

A desaceleração do ritmo da atividade econômica começou ainda no primeiro trimestre, avaliou o economista-chefe da Quantias Asset, Ivo Chermont. A expectativa do mercado era de crescimento de até 3% em 2018, mas o resultado do início do ano foi frustrante. “Em seguida, tivemos um choque forte, com a greve dos caminhoneiros. Há retomada de parte da atividade, mas outra se perdeu. Além disso, temos uma combinação de cenário externo volátil, dólar caro e cenário político incerto. Somando tudo isso, temos menor confiança”, destacou.

Nas contas de Chermont, a economia terá uma retração de 0,2% no terceiro trimestre e terminará o ano com alta de 1,3%. Conforme ele, esses dados podem ser revisados a partir do momento em que houver mais clareza do impacto da paralisação dos caminhoneiros na atividade. “Os dados antes da greve mostravam uma melhora do ambiente, mas, agora, precisamos ter mais cautela ao fazer uma avaliação. Ficou mais difícil entender a dinâmica da economia brasileira, já que o choque foi muito forte. A impressão é de que, se não tivesse ocorrido a paralisação, o país poderia crescer perto de 2%”, comentou.

Fonte: Correio Braziliense

 

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