Tenho acompanhado especialistas na área da medicina que explicam a razão do Brasil ainda não ter se tornado autossuficiente na produção de insumos. A ABIQUIFI – Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos declarou que, na última década de 80, o Brasil produzia 55% dos insumos do país e hoje produz apenas 5%. A justificativa dada é a de que importar tornou-se economicamente mais vantajoso. Entretanto, há certos produtos para os quais a decisão política não pode ser avaliada e tomada apenas com base na questão econômica. Neste caso, de produção de insumos, trata-se de soberania nacional, para defesa da saúde pública e da vida das pessoas. Não se refere apenas a insumos para produção de vacinas, mas para produção de outros medicamentos, como antibióticos, todos de necessidades básicas e urgentes.

Esta pandemia tem causado muito sofrimento a todos nós, seja em razão da restrição da liberdade de ir e vir, do retrocesso econômico, assim como das sequelas em consequência das contaminações que causam a Covid-19. A dor se faz ainda maior para aqueles que perderam seus entes queridos, aos quais enviamos toda nossa solidariedade. Eu, assim como muitos brasileiros, com certeza, não sabíamos desta política retrógrada aplicada aqui no Brasil, nestes últimos 40 anos, com relação à produção de insumos. Não isento a minha parcela de culpa por desconhecer este problema, enquanto cidadão brasileiro, mas quantos profissionais da medicina exerceram cargos no Ministério da Saúde e não questionaram esta política que veio andando na contramão, nos últimos 40 anos pelo menos, e sequer levaram a questão a público? Quantos parlamentares, principalmente com formação em medicina e nas áreas da saúde, exerceram cargos no Congresso Nacional, nestes últimos 40 anos, e não procuraram questionar esta perda de soberania nacional, no tocante à produção de insumos farmacêuticos? E onde estavam os profissionais dos Institutos, nestes 40 anos, que não manifestaram, junto às suas representações, para que houvesse uma mobilização da sociedade, a fim de cobrarmos dos governos, investimentos para fabricação própria de insumos, para que hoje tivéssemos produção suficiente de vacinas, sem termos que ficar mendigando insumos de outros países?

O resultado de toda esta política retrógrada e inconsequente, é a escassez de vacinas, e o Brasil continua tendo milhões de pessoas contaminadas, assim como perde mais de mil vidas para a Covid-19 todos os dias.

Espero que esta tragédia sirva de exemplo e de lição; precisamos escolher melhor nossos representantes, para que possamos ter as pessoas certas nos cargos de tamanha responsabilidade, pois suas atitudes podem salvar vidas, mas suas omissões podem cessar vidas. E a situação se torna ainda mais preocupante, pois, atualmente, temos na Presidência da República uma pessoa que contraria a ciência e não acata as recomendações sanitárias, aumentando, assim, o número de contaminados e de mortes.

Atenciosamente,


Artur Bueno de Camargo

Presidente da CNTA

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